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O NASCIMENTO TAMBÉM TEM SUA HISTÓRIA
Todos
nós sentimos que estamos em uma etapa decisiva do futuro da humanidade.
Mesmo se acharmos que a prática generalizada da fecundação
"in vitro" e de mães de substituição não é
para agora, as modificações que ocorreram neste últimos
anos foram bastante significativas.
O
profissional que se dedica ao nascimento e que é sensível
à sua problemática não pode ficar indiferente e deixar
de se interrogar sobre o que se passa sob seus olhos. O presente e o passado
são objeto de sua curiosidade. Como eram as práticas culturais
que acompanhavam os nascimentos? Somos solidários de um passado
que conhecemos mal. Existe, entretanto, uma certeza: nós somos,
em maior ou menor grau, condicionados por ele. Os hábitos e comportamentos,
as práticas dos tempos passados influenciam ainda, às vezes
mais do que pensamos, os comportamentos atuais.
Passaram-se
dois séculos de medicalização do parto. Durante esse
período a tendência, os esforços foram realizados no
sentido de retirar da assistência ao parto tudo o que não
fosse estritamente relacionado ao biológico e à arte médica.
Medidas tomadas priorizavam a higiene pensando em favorecer o indivíduo.
Ficaram esquecidos os aspectos espirituais, psicológicos e sociais.
Um exemplo que ilustra muito bem essa tendência foi a criação
de berçários para recém-nascidos normais que condicionou
longo tempo de separação entre mãe e filho.
Vivemos
numa época caracterizada pelo consumismo, que por sua vez, leva
ao materialismo, à confiança na tecnologia, à perda
da individualidade, ao conforto que estabiliza e impede o indivíduo
de arriscar e criar novas situações, que transformou o homem
num simples "objeto" de consumo, que amortiza as consciências.
Na família, poucos filhos, o divórcio
(nos USA de cada dois casamentos, um termina em divórcio). Liberdade
sexual que se seguiu à anti-concepção.
Todos
esses fatores influem de forma direta ou indireta sobre o nascimento.
Humanizar o parto é respeitar e criar condições
para que todas as dimensões do ser humano sejam atendidas: espirituais,
psicológicas, biológicas e sociais.
A mulher é um animal racional. Nada que é
humano é puramente corporal, assim como nada é puramente
espiritual. O corpo (soma, em grego) e o espírito (psiché)
estão simultaneamente presentes.
Nas
questões relativas ao parto não só os médicos
deveriam ser ouvidos mas antes de tudo a mulher que faz a experiência
de dar à luz.
A colaboração de outros profissionais
que em seu campo de pesquisa e trabalho privilegiam a condição
feminina viria enriquecer e reforçar as mudanças que se fazem
necessárias nessa área. Lembramos das assistentes sociais,
psicólogos, sociólogos, antropólogos, enfermeiras-obstétricas,
parteiras tradicionais.
O nascimento não é um mecanismo de
"fabricação" de crianças. É um processo de
criação.
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